Fonte: Baixaki Jogos
“Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades”. A famosa frase eternizada pelo falecido tio do Homem-Aranha já foi utilizada nos cinemas, nos quadrinhos e em vários outros meios e serve como um lema para as ações da maioria dos super-heróis. Afinal, nada mais lógico do usar um dom para ajudar outras pessoas, não é mesmo?
Para Cole MacGrath, as coisas não funcionam de modo tão poético assim, o que torna a filosofia apenas mais uma ideologia utópica. Afinal, desde que obteve suas habilidades no incidente em Empire City, o personagem aprendeu que o mundo não é tão colorido e bonito como pintado nos gibis.
Prova disso é que, em inFamous 2, o protagonista terá de encarar novamente o preconceito por ser diferente, dessa vez em outra cidade. Neste local, Cole encontrará novos inimigos e aliados, além de uma população para salvar – ou aterrorizar.
A trama dá continuidade aos fatos do game anterior e leva os personagens a uma nova cidade, New Marais. Embora os estragos na área sejam menores do que os da metrópole, a situação não é menos caótica. Isso porque uma organização conhecida como Milícia aproveitou a desordem para criar um regime de violência com base no terror para dominar a região.
Esse é um dos pontos que mais se destacam em inFamous 2. Além de termos um mundo aberto para que os jogadores possam brincar à vontade com seus poderes, há todo um pano de fundo envolvendo o preconceito e segregação – algo que ainda marca a região Sul dos Estados Unidos. Isso porque a Milícia está a todo instante promovendo discursos contra os “monstros” poderosos e iniciando uma cruzada contra Cole e os demais “demônios” que invadiram a cidade.
É a partir desse ponto que a principal novidade da série mais se destaca. O sistema de Karma, introduzido no título original, passa a fazer muito mais sentido em um local em que você é hostilizado por ser diferente. Será que vale a pena ajudar as pessoas que o xingam e o apedrejam ou é melhor utilizar seus poderes para alcançar seus objetivos, ignorando a possibilidade de que isso pode ferir alguém?
Em um dilema digno dos X-Men, chegou a hora de colocar suas decisões novamente em uma balança para definir se seus poderes vieram acompanhados com uma dose de responsabilidade ou inconsequência.
Aprovado
Entre anjos e demônios
Se a mecânica de decisões chamou tanto a atenção no primeiro game, em inFamous 2 isso é aprimorado. A grande diferença é que as ações estão menos maniqueístas, ou seja, não há nada completamente bom nem totalmente mal. Por mais que você siga o caminho correto, é possível cometer algumas maldades e vice-versa. Essa complexidade torna tudo mais real e humano.
Além disso, há uma polarização nesse aspecto com a chegada de novas personagens. Como você já deve ter acompanhado nos trailers e até mesmo nas prévias do Baixaki Jogos, Kuo e Nix vêm para ajudar Cole em sua missão, mas também agem como representações do certo e do errado para o protagonista.
O funcionamento dessa divisão é bem simples, mas funciona muito bem. Se no primeiro game a decisão de Karma era feita na hora – como salvar alguém ou se beneficiar daquela situação –, agora você terá duas pessoas tentando influenciar suas ações. Lembra-se dos desenhos da Disney em que um anjo e um diabinho tentavam convencer o personagem a fazer alguma escolha? Pois a sensação é a mesma.
Neste caso, temos o temperamento explosivo e intolerante de Nix, uma habitante de New Marais que, assim como Cole, também possui poderes e os usa de modo inconsequente. Por ser chamada de demônio por todos, ela não se preocupa em poupar vidas, contanto que consiga atingir seu objetivo.
Na contramão disso temos Kuo, uma agente da NSA que ajuda o herói desde o início do jogo. Além disso, ela sempre tenta fazer com que MacGrath faça as coisas do jeito mais coerente possível, ou seja, sem envolver inocentes nas batalhas contra a Milícia.
Por agirem de forma completamente oposta, você terá sempre de optar por ajudar uma ou outra. Embora essa divisão só seja feita a partir de determinado momento, ela vai ditar todo o andamento da trama, pois as consequências influenciarão no modo com que as pessoas o veem – algo que já era feito no primeiro inFamous.
O interessante é que essa diferença ideológica também age na jogabilidade e, principalmente, no fator replay. Com métodos divergentes, Nix e Kuo terão missões diferentes, o que faz com que uma anule a outra. Isso serve como um atrativo a mais para que o jogador volte a terminar o game uma segunda vez com o outro Karma e com uma experiência tão inédita quanto da primeira.
Ainda mais poderoso
É claro que Cole não iria iniciar uma guerra contra a Milícia sem novas habilidades. Como pôde ser visto na demonstração liberada no mês passado, inFamous 2 traz novas habilidades ao herói. Se os truques antigos já foram o suficiente para bagunçar Empire City, prepare-se para um estrago ainda maior em New Marais.
Porém, como fazer para ganhar novos poderes se, na teoria, o personagem conseguiu elevar sua força ao máximo antes do combate contra a Fera? É a partir dos chamados Núcleos de Energia, fragmentos radioativos introduzidos nesta sequência, que a força de MacGrath evolui a um novo patamar.
O uso dessas novas habilidades é bem variado, indo desde a criação de um campo magnético que permite fazer com que objetos flutuem ou sejam arremessados (o que pode transformar um carro em um poderosa bomba, por exemplo) até a evocação de um tornado elétrico que engole todos que estiverem pelo seu caminho.
Outro ponto interessante de inFamous 2 é que os principais poderes do game original estão de volta logo de início – algo pouco comum em continuações. Ainda que alguns só possam ser acessados a partir do aperfeiçoamento de suas habilidades, aquilo que é essencial pode ser usado sem qualquer enrolação, como a granada e a capacidade de flutuar.
Ação e mais ação
O retorno das habilidades do game anterior logo nos primeiros segundos de jogo evidencia um dos aspectos mais valorizados pela Sucker Punch em inFamous 2: a ação. Desde o início, o título é repleto de momentos e combates para enlouquecer os fãs.
Para ter uma ideia, a cena inicial ainda acontece em Empire City e coloca Cole em mais uma luta contra a Fera, que simplesmente destrói a cidade enquanto o herói tenta impedi-la. Tudo isso com explosões, descargas elétricas e pedaços do cenário voando sem parar para todos os lados.
Em New Marais, a intensidade dos confrontos não é diferente. Além dos já comentados poderes – com destaque para o Vortex Iônico, cujo efeito na tela é fantástico –, MacGrath recebe uma nova arma para acabar com a Milícia. O Amp é uma espécie de bastão criado por Zeke que consegue conduzir a eletricidade do personagem e potencializar seus ataques, causando danos maiores nos inimigos.
A troca dos punhos pelo equipamento foi um dos pontos mais divertidos de inFamous 2 por vários aspectos. Primeiro porque o acessório dá uma dinâmica nova de combate, principalmente em relação ao game anterior. Se antes era possível eliminar todos os adversários apenas com disparos de energia à distância, agora é mais vantajoso mergulhar na porrada e distribuir pancada entre os milicianos.
Porém, a grande adição do Amp está nos movimentos de finalização. Ao realizar ataques sucessivos, uma pequena barra é preenchida na lateral da tela. Ao pressionar o botão triângulo, Cole faz uma investida mais poderosa em uma rápida animação cheia de estilo.
Além de deixar os combates muito mais atraentes e divertidos, essas conclusões de combos também ajudam em lutas contra múltiplos adversários. Em momentos em que você está cercado, o artifício ajuda a diminuir a quantidade de agressores rapidamente – além de causar uma boa impressão para o herói.
Bem-vindo a New Marais
Falar de inFamous 2 é falar da nova cidade, pois boa parte das novidades desta sequência está relacionada ao que o local tem a oferecer. Se Empire City trouxe liberdade quase infinita para agir, New Marais traz possibilidades inéditas para explorar seus poderes.
Primeiramente porque o mapa é significativamente maior do que o do jogo anterior. Essa sensação é auxiliada pelo fato de não haver tantas ilhas separadas para serem descobertas, permitindo que você tenha mais espaço útil para desbravar.
A geografia do lugar também colabora, pois temos uma grande variedade de ambientes, que vão desde o centro urbano com prédios altíssimos – perfeitos para se jogar e causar estragos gigantescos – a áreas pantanosas e desabitadas. Isso faz com que os “passeios” não se tornem repetitivos.
Além disso, o próprio visual da cidade se destaca. Como não estamos mais no epicentro do caos, o cenário não é tão caótico quanto o que foi visto no game anterior. Ainda há construções intactas e tudo parece correr normalmente na vida das pessoas, o que faz com que o local seja muito mais atraente. Há dezenas de detalhes em todos os cantos, o que deixa inFamous 2 muito mais colorido e vivo que seu antecessor – algo favorecido pelos gráficos renovados.
Essa vivacidade da cidade também é sentida nas ruas, pois a população não está morrendo nas esquinas, o que dá margem para que ela preste atenção em você. Sendo assim, é possível ouvir os comentários sobre o “demônio”. Alguns indivíduos vão simplesmente fugir, enquanto outros reclamam quando Cole usar alguma habilidade ou o xingam por “roubar” a energia de algo.
Outro aspecto interessante de New marais é que as missões não são tão engessadas quanto antes. Ações menores, como sequestros e assaltos estão novamente presentes, mas agora acontecem de modo aleatório pelo cenário, como em Red Dead Redemption. Defender ou não essas pessoas é algo que você deve decidir.
Porém, por trás de tudo isso, New Marais vive amordaçada pela tirania da Milícia. As ruas estão repletas de soldados armados para “proteger” os cidadãos do “demônio elétrico” ao mesmo tempo em que há uma busca constante por quem decide não apoiar o regime – o que transforma cada canto em um possível campo de batalha.
Como se não bastasse, uma nova ameaça ronda a cidade pantanosa. Misteriosas criaturas surgem a partir de determinada parte do enredo para tornar a situação no município muito mais complicada. Essas mutações são muito mais resistentes e letais que os milicianos e dão início a uma guerra nas ruas do local, pois há três forças lutando entre si a todo o instante.
Versão brasileira
Dando continuidade à introdução da Sony no mercado nacional ocorrida desde Killzone 3, inFamous 2 traz uma ótima notícia para o público brasileiro: áudio e legendas totalmente no português do nosso país. Quem testou a demonstração liberada pelo estúdio pôde dar uma rápida conferida no trabalho de dublagem que, apesar de não agradar a todos, é uma ótima forma de tornar o título mais acessível.
As vozes são um pouco forçadas em determinados momentos, principalmente a de Cole e Nix, mas não chegam a atrapalhar ou incomodar durante a jogatina. Os demais personagens já são um pouco melhores e conseguem trazer naturalidade às atuações.
No entanto, os usuários mais conservadores podem achar ruim o fato de não ser possível selecionar o idioma do jogo, obrigando-o a modificar a linguagem do sistema para conseguir ouvir as vozes originais. Isso também impede a combinação de som em inglês com legendas em português, o que simplesmente obriga o jogador a ouvir o sotaque carioca de muitos personagens.
Jogue, crie, compartilhe e exploda tudo ao seu redor
A grande novidade de inFamous 2 está no editor de fases desenvolvido pela Sucker Punch. A mecânica é bastante parecida com a de LittleBigPlanet, embora com certas limitações. Isso significa que você não poderá criar uma cidade do zero, mas apenas aproveitar as estruturas já existentes para elaborar uma missão completamente nova.
A personalização desses níveis é feita de modo muito simples. Ao entrar no modo de edição, você tem liberdade para adicionar pessoas, inimigos e estruturas ao local, além de definir um objetivo a ser cumprido. Assim como no título dos Sackboys, há um medidor de objetos no canto da tela que indica a quantidade de inserções feitas, impedindo que os usuários extrapolem o limite oferecido pelo game.
Além disso, há uma variedade de pequenas ferramentas de criação, que servem para ativar funções específicas na fase. Basta adicionar um botão em determinado lugar, ligá-lo a algum objeto e definir uma ação. Isso permite que tenhamos explosões causadas com sua aproximação ou o início de uma música de combate – ou o que mais você imaginar.
Ao terminar a customização, é possível enviar o resultado final aos servidores do jogo, permitindo que outras pessoas aproveitem sua criação. O divertido é que esses estágios podem ser acessados por qualquer um como se fosse uma missão secundária de New Marais, com direito até mesmo a marcações no mapa. Para tornar essa exibição mais organizada, é possível filtrar entre trabalhos destacados, recentes e populares.
Reprovado
Um mundo livre, mas nada ousado
Embora New Marais traga algumas novidades a inFamous 2, é inegável que a Sucker Punch reaproveitou muitos elementos do game original e trouxe uma aventura muito semelhante à apresentada em 2009. Por mais que o primeiro jogo tenha sido um sucesso em sua época, é preciso ir além da simples repetição de fórmula para tornar a experiência tão envolvente quanto antes.
Tudo é muito parecido, evidenciando a falta de inovação por parte da desenvolvedora. A mecânica básica continua exatamente a mesma e há pouquíssimas adições significativas em termos de jogabilidade, fazendo que as pessoas que visitaram Empire City recentemente –principalmente depois da liberação do título no pacote do Welcome Back na PSN – não percebam grandes inserções nesta sequência. Novos golpes, outros inimigos e um lugar inédito, mas nada além disso.
Quando o título foi lançado, há três anos, o sistema de Karma inovou e conquistou muitos fãs por conta da possibilidade de decidir se seu personagem será bom ou mal. No entanto, os tempos são outros e brincar de causa e consequência não é mais inédito ou revolucionário. É preciso provocar o jogador e oferecer, novamente, algo diferente para atraí-lo, o que o estúdio não conseguiu fazer.
Além disso, muitos dos problemas do game original persistem. A movimentação de Cole continua pouco natural, principalmente durante as escaladas. Os velhos bugs voltam a aparecer, como a irritante habilidade de MacGrath de atravessar estruturas sólidas. Pior que isso somente quando as pessoas desaparecem ao serem eletrocutadas – algo semelhante à mágica de Nikola Tesla no filme “O Grade Truque”.
Fazer firula para tomar tiro
Se as finalizações serviram para dar uma nova dinâmica às lutas e o Amp foi adicionado como incentivo para o combate corpo a corpo, a maldita travada vai na contramão de tudo isso e se transforma no pior inimigo de inFamous 2. Isso porque ao fim de cada combo, Cole realiza um movimento performático para acabar com os inimigos.
O problema é que, para adicionar um efeito dramático à cena, isso é feito em câmera lenta. Contudo, o slowdown é completamente desnecessário e só funciona para o protagonista, o que significa que os membros da Milícia continuam a atirar loucamente enquanto você se exibe. Se você estiver cercado neste momento por mais dois inimigos, prepare-se para morrer em breve.
Potência que prejudica a beleza
Se comparado com seu antecessor, inFamous 2 é um game muito mais bonito e bem trabalhado. O visual do cenário e dos personagens foi melhorado e traz texturas bem convincentes. No entanto, isso não impede que tenhamos problemas básicos de composição gráfica.
Como dito anteriormente, o jogo traz ambientes muito mais vivos e detalhados, o que faz com que New Marais seja atraente em todos os cantos. Contudo, essa grande quantidade de objetos sendo exibidos simultaneamente faz com que elementos mais pesados assumam aspectos abaixo do desejável.
Isso é claramente perceptível em itens sobrepostos a algum efeito, como fogo, eletricidade ou irradiação. Durante uma explosão, por exemplo, é possível enxergar com clareza os serrilhados da cena. Isso até não seria um problema tão grande se não fosse encontrado no próprio personagem principal, que se torna um borrão quando usa suas habilidades mais poderosas.
Vale a pena?
Se o primeiro jogo conquistou milhões de pessoas por conta da mecânica inovadora de Karma, inFamous 2 funciona como um aperfeiçoamento da fórmula ao corrigir as falhas de seu antecessor e ao trazer uma aventura renovada e extremamente divertida. Mesmo com algumas falhas e a falta de inovação da desenvolvedora, o título é a prova de que uma jogabilidade envolvente e desafios variados conseguem ofuscar qualquer defeito.
O sistema de edição de fases é a principal novidade, ainda que não consiga empolgar tanto aquelas pessoas que não têm paciência para personalização de níveis. Mesmo assim, a adição serve como forma de estender a vida útil do título, pois sempre existirá uma missão nova para ser completada.
Desse modo, o novo game da Sucker Punch se destaca como um dos melhores exclusivos do PlayStation 3 e fará com que os usuários percam horas explorando todos os cantos de New Marais. Sendo bom ou mal, Cole MacGrath volta para consolidar seu nome de vez no console da Sony.
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